Vargas Llosa morreu. E deixa uma sombra longa


Conheci sua obra quando estava numa fase "latino-americanista" — dessas em que a gente tenta entender o subcontinente por dentro, pelas suas contradições, pelas suas feridas abertas, pelos romances que o explicam melhor do que qualquer tese. Foi assim que cheguei a A Guerra do Fim do Mundo. E fiquei.

Llosa escrevia como quem se atira contra a parede. Com fôlego, com ambição, com aquele impulso de quem sabe que a literatura é um risco — e que vale a pena correr. Era romancista de verdade, desses que não têm medo do tempo, da densidade, da ambiguidade.

E sim, era um gênio. Incômodo, mas gênio.

Nunca foi tão grande quanto seu antigo amigo — e depois rival — Gabriel García Márquez. Mas não foi pequeno. Foi ele quem deu um soco em Gabo, literalmente, e talvez tenha apanhado depois da história, que sempre favoreceu mais o realismo mágico do que o realismo cínico. Mas sua literatura sobrevive a isso. Porque tinha substância. Tinha mundo dentro.

Nos últimos anos, Vargas Llosa se tornou uma figura difícil de defender. Foi se aproximando de discursos cada vez mais estreitos, endossando uma direita ruidosa que parece ter mais desprezo pelo povo do que amor pela liberdade. Defensor incansável do liberalismo, virou um polemista ideológico. E, como tantos, envelheceu cercado de certezas.

Mas seu legado é mais complexo do que isso. E mais duradouro.

Seus romances continuarão a ser lidos — talvez mais do que seus artigos. Porque a literatura, quando é boa, sobrevive ao autor. E Vargas Llosa era bom. Muito bom.

Morreu o homem. Fica a obra. E a dúvida: é possível ser um grande escritor e, ao mesmo tempo, errar tanto fora da página?

Talvez sim. Talvez só um grande escritor seja capaz de inquietar tanto — e, mesmo assim, permanecer maior que si mesmo.


Receba meus textos direto no seu e-mail. Sem spam. Sem algoritmo.
Só pensamento.

Inscreva-se na nossa newsletter semanal:

Esses dados serão utilizados para entrarmos em contato com você e disponibilizarmos mais conteúdos e ofertas. Caso você não queira mais receber os nossos e-mails, cada email que você receber incluirá ao final um link que poderá ser usado para remover o seu email da nossa lista de distribuição.

Para mais informações, acesse: hotmart.com/pt-br/legal/privacidade-de-dados

Comentários

  1. Eu pra ser bem sincera não conheço a obra literaria dele, conheço o do Gabriel Garcia Marquez, mais o do Varga Llosa não conheço espero um dia conhecer a obra dele, que descanse em paz!
    Parabéns Henry

    ResponderExcluir
  2. Anônimo8:04 AM

    O texto de Henri é bom, mas o aspecto visual do blog é péssimo! Falta letras maiores, mais cor, mais vida. Está com aspecto dos blogues de 20 anos atrás, muito padronizado.

    ResponderExcluir
  3. Anônimo9:56 AM

    Igual a Lhosa, vários outros escritores eram perturbados. Pra mim seu maior problema era saber lidar com suas diferenças com Gabriel Garcia Marques

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas