Minecraft – A caixa de areia virou cinema. E, contra todas as expectativas, funcionou

 

Confesso: entrei no cinema com a guarda alta. Esperava mais uma adaptação oportunista, dessas que tentam converter blocos de pixels em tramas que se levam a sério demais — ou pior, que tentam ser engraçadas como um tio de festa infantil. Mas o filme do Minecraft me surpreendeu. E mais do que isso: me divertiu. De verdade.

Talvez porque ele não tente ser o que não é.

Ele não quer ser O Senhor dos Anéis, embora a referência esteja ali no embate final. Não tenta transformar Steve (interpretado por um Jack Black) em arquétipo universal. O filme entende que Minecraft é o que sempre foi: uma experiência de jogo livre, caótica, improvisada e, por vezes, absolutamente genial na sua simplicidade.

A história é simples, como deve ser: quatro desajustados — Garrett “The Garbage Man” Garrison (Jason Momoa), Henry, Natalie e Dawn — são transportados por um misterioso portal para o Overworld, um mundo cúbico repleto de perigos e criaturas como Piglins e Zumbis. Para retornar ao seu mundo, eles terão que dominar este novo ambiente com a ajuda de um construtor experiente e imprevisível, Steve (Jack Black). Durante essa jornada mágica, os cinco aventureiros precisarão redescobrir suas habilidades únicas, essenciais não apenas para sobreviver no Overworld, mas também para prosperar na vida real .​

O filme sabe mais ou menos o que está fazendo. Não tem vergonha de ser um amontoado de missões aleatórias, gags visuais, criaturas ridículas e lógica de crafting. A física do mundo é a mesma do jogo. A construção narrativa, também. Há um bagunçado respeito pelo espírito original de Minecraft: a liberdade de brincar — e de falhar — sem precisar justificar tudo com coerência cinematográfica.

Mas há um detalhe que me pegou.

Entre explosões de Creepers, vilas invadidas e picaretas encantadas, o filme toca em algo mais sutil: o prazer da criação como resistência ao tédio e ao vazio. No fundo, Minecraft sempre foi isso — um jogo onde a gente constrói porque o mundo, lá fora, insiste em desabar. E o filme entende esse impulso.

E o público entendeu também. Apesar do ceticismo inicial de parte da crítica, o filme estreou como fenômeno de bilheteria, arrecadando US$ 163 milhões nos Estados Unidos e US$ 313 milhões globalmente em seu primeiro fim de semana, tornando-se a maior estreia de uma adaptação de videogame até hoje. As crianças e adolescentes, que estavam receosos de que a adaptação fosse horrível e passaram meses fazendo memes com cenas do trailer, transformaram a experiência de ir ao cinema em algo caótico, numa trolagem - tanto que estão dedicando certas sessões apenas pra isso, pra essa experiência disfórica do caos.

Não há uma grande lição no final. E nem precisa. A vitória aqui é outra: sair da sala com um sorriso idiota, como quem acabou de passar duas horas dentro de uma grande caixa de areia colorida, sem ninguém dizendo o que é certo, o que é útil, o que é profundo. Só o prazer, quase esquecido, de brincar por brincar.


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Comentários

  1. Anônimo9:07 AM

    Tb fui com meu filho... o melhor foi a interação da criançada dentro do cinema...a cada referência do jogo eles vibravam e aplaudiam...cantavam junto com a música...muito legal!

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